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O Quilombo Alto da Serra do Mar, no distrito de Lídice, município de Rio Claro (RJ), foi fundado em 1950, com a união das famílias Leite e Antero; descendentes de escravos das antigas fazendas de café da região do Médio Paraíba.
As terras de quilombos são territórios étnico-raciais com ocupação coletiva baseada na ancestralidade, no parentesco e em tradições culturais próprias. Elas expressam a resistência a diferentes formas de dominação e a sua regularização fundiária está garantida pela Constituição Federal de 1988.
Atualmente, o Alto da Serra é formado por 55 famílias que sobrevivem, basicamente, da agricultura familiar. A comunidade produz queijo, doces, hortaliças, criam animais e ainda oferecem turismo rural com direito a pesque-pague.
Para se desenvolverem, os moradores do quilombo contam com a ajuda de entidades como a União de Associações e Cooperativas de Pequenos Produtores Rurais do Estado do Rio de Janeiro (UNACOOP), que está oferendo, com recursos do Pavilhão 30, administrado por esta entidade, assistência técnica profissional para orientá-los sobre planejamento, produção e escoamento dos seus produtos.
O quilombo recebeu a certificação de orgânico, em 2018, com o apoio da UNACOOP e da extinta Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD), por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com isso, tornaram-se uma Organização de Controle Social (OCS), onde os produtores passaram a ter Declaração de Aptidão ao PRONAF, permitindo que seus produtos possam ser comercializados em programas federais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Como parceira da agricultura familiar e de comunidades tradicionais, A UNACCOP também firmou parceria com o Laboratório de Controle Microbiológico de Alimentos (LACOMEN) da Escola de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO) para que algumas localidades recebam, gratuitamente, da UNIRIO, um projeto piloto de análise de produção de leite cru e também análise de fertilidade do solo. Este projeto também será disponibilizado para propriedades de Mangaratiba (RJ).
Seu Benedito Leite tem 76 anos. Chegou ao quilombo Alto da Serra do Mar em 1960. Teve 11 filhos, mas a vida lhe tirou dois. Alguns vivem da produção rural, outros não. O chefe da família Leite vive da agricultura familiar e, há 40 anos, participa da feira de Angra dos Reis, semanalmente; onde, segundo ele, arrecada cerca de 800 reais, por semana. Com o apoio da UNACOOP, o quilombo passou a poder vender seus produtos orgânicos também nas feiras de Rio Claro, onde se localizam, melhorando o escoamento de sua produção e incentivando o surgimento de novos mercados.
Mas em meio à luta pela perpetuação da cultura quilombola e da sobrevivência através da produção familiar, Margarete Teixeira, gerente geral da UNACOOP, percebeu que, apesar do apoio dessa e de outras entidades, o Alto da Serra ainda possui sérios gargalos. “As coisas estão se desenvolvendo, mas existem muitas dificuldades. Eles ainda trabalham de maneira muito precária, para os padrões exigidos. Então estamos incentivando a busca por novas parcerias que auxiliem a produção familiar, incluindo as comunidades tradicionais, porque, afinal de contas, o que está em jogo é a resistência da cultura do quilombo, mas também o incentivo para que tenhamos, cada vez mais, produtos de boa qualidade em nossas mesas”, enfatizou.
QUILOMBO DA ILHA DA MARAMBAIA
A Comunidade de Remanescentes da Ilha da Marambaia (ARQIMAR), pertence ao município de Mangaratiba. Para ter acesso ao local, somente com embarcação oficial. Isso, porque uma parte da restinga da Marambaia é de uso privado da Marinha. Entretanto, a comunidade realiza várias atividades culturais como apresentações de jongo, capoeira, danças de roda e palestras, dignas de visitação.
No último mês de agosto, o presidente e a gerente geral da UNACOOP, Jocimar de Oliveira e Margarete Teixeira, participaram da posse da nova diretoria da ARQIMAR, na praia Suja (Ilha de Marambaia), e se colocaram à disposição no trabalho de desenvolvimento do quilombo, reafirmando seu compromisso com a agricultura familiar fluminense. Atualmente, a comunidade conta com 415 famílias quilombolas. A convite da UNACOOP, o Grupo Cultural Filhos da Marambaia se apresentou dia 30 de agosto, deste ano, na Feira da Agricultura Familiar do Pavilhão 30, apresentando a dança do jongo para expositores e visitantes.
Diretora Sociocultural do Quilombo da Ilha de Marambaia, fundadora e membro da Organização Estadual dos Quilombos do Estado do Rio de Janeiro e integrante da Coordenação Nacional de Quilombos, Vânia Maria Alves Guerra dos Santos tem 60 anos e, na Marambaia, é também poeta e encarregada de registrar o dia-a-dia da comunidade e pesquisar sobre a história de seu povo. “Assumi o título de griô, que é aquele que repassa seus saberes, a fim de evitar que nossa história caia no esquecimento. Esse é um papel que desempenho com muito respeito e compromisso”.
Vânia, assim como a maioria das famílias deste quilombo, sobrevive da agricultura de subsistência e da pesca familiar. “Comercializamos nossos produtos em Mangaratiba, ainda por meio dos atravessadores, devido a comunidade estar localizada em uma ilha e o acesso a ela ser apenas pelas embarcações da Marinha. Não temos como escoar nossa produção, nem mesmo sermos atendidos pelas políticas públicas como o PNAE e PAA”.
Ela enfatizou a conquista da titularidade da terra, concedida pelo INCRA em 2015, mas reforçou que ainda precisa de muito apoio do poder público, sobretudo de investimentos na construção de escola de ensino médio e posto de saúde no quilombo.“A cultura quilombola está no nosso sangue. Diariamente, o quilombo reforça essa bagagem cultural, cantando, batendo tambor, contando histórias de nossos antepassados”, finalizou a poeta Vânia dos Santos.
Por Larissa Machado
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